Associação de Estudos Huna

IKE AO NEI

“O mistério da vida está além de toda concepção humana. Tudo o que conhecemos é limitado pela terminologia dos conceitos de ser e não ser, plural e singular, verdadeiro e falso. Sempre pensamos em termos de opostos, mas Deus, o Supremo, está além dos pares de opostos, já contém tudo em Si”.

Joseph Campbell

Abraham Fornander, que morava no Havaí no Século IXX, fez extensos estudos da cultura e da lingüística desse povo na tentativa de provar que o berço da civilização Polinésia foi o Oriente Próximo.

Max Freedom Long também estava convencido disso, e alegava ter recebido confirmação para sua hipótese de Stewart, que viveu entre os berberes no norte da África. Atualmente, antropologistas mantêm opinião de que os Polinésios vieram da Índia ou do sudeste da Ásia e Thor Hyerdahl acredita que a origem foi na América do Sul.

Os havaianos, no entanto, reivindicam que seu conhecimento e sua cultura são originários da região do Pacífico e que dali expandiram para o resto do mundo. Assim pensam Leinani Melville, James Churchward e Serge Kahili King.

Existem inúmeras coincidências de nomes e significados em diversos lugares da terra, que fazem os estudiosos pensarem na antiguidade e difusão dos ensinamentos polinésios.

No Antigo Testamento há muito conhecimento Huna oculto nos nomes de pessoas e lugares. Um bom exemplo é a historia do Jardim do Éden que possui uma gama de significados ocultos que descrevem o processo para se manter um elevado estado de prosperidade e alegria e os efeitos que ocorrem quando se permite que pensamentos e atitudes negativas dominem. O Jardim do Éden é um estado de consciência e não um local que existiu na terra.

Compreender a essência das filosofias ocultas requer uma completa mudança no pensar por parte do estudante e são poucos os que realmente se interessam. A maioria das pessoas é preguiçosa e deseja a lua, mas não quer se esforçar esperando milagres sem conseguir a necessária transformação interior.

A pessoa que idealizou o símbolo da Huna devia conhecer ocultismo e o modo como colocar a essência de um conhecimento secreto em um desenho com algumas frases escritas. A grande dificuldade não é descrever e explicar o conteúdo do símbolo. O difícil é apreender os princípios aí implicados e praticá-los para a melhoria pessoal e da humanidade.

O símbolo Huna tem em sua parte inferior a seguinte inscrição: “IKE AO NEI”, cujo significado é “Antigas Revelações para o Mundo”.

A figura utilizada pelos desenhistas do símbolo foi o círculo. Segundo Jung, “o círculo é uma das grandes imagens primordiais da humanidade e ao nos determos nesse símbolo estamos analisando o próprio eu. As imagens circulares refletem a psique – relação entre essa forma geométrica e a real estruturação de nossas funções espirituais”.

O círculo representa a totalidade. Tudo dentro do círculo é uma coisa só, limitada e circundada – é o aspecto espacial.
O aspecto atemporal refere-se à parte que vai a algum lugar e volta sempre.

A Huna é plena de símbolos em sua mitologia e também na parte psicofilosófica. Os seus primórdios remontam à época dos primeiros habitantes de Mu, no Pacifico. Os primeiros espíritos vieram do Criador e adquiriram a veste corporal humana em Mu também chamado de Ta Rua, Havai’i-ti-Havai’i, Tahiti. Desenvolveram um sistema de vida, uma linguagem bastante aprimorada para conter os ensinamentos e prepararam indivíduos para a propagação dos conhecimentos por ele praticados (os naacals).

O povo de Mu era definido pelos kahuna como predecessores, pessoas pequenas que formaram a primeira civilização do mundo; pessoas silenciosas que se moviam tranqüilamente e trabalhavam sem barulho, pessoas reservadas que preservaram seu conhecimento em silêncio. Referem-se a eles como pessoas lendárias, que viveram no Havai’i há muito tempo.

Após o desaparecimento de Mu em um terrível cataclismo, restaram os mestres do sistema em outros continentes e nas ilhas Polinésias.

Esse conhecimento não se perdeu porque transmitiram oralmente a muitos seguidores toda a mitologia, lendas e conhecimentos sobre a psique humana.

Teria sido essa a forma que as divindades encontraram para transmitir os ensinamentos psicofilosóficos?
Se assim foi, muitos pesquisadores das civilizações da Polinésia estavam certos, pois acreditavam que a maioria dos preceitos existente provinha das lendas e narrativas transmitidas pelos Deuses. As ilhas do Havaí não poderiam fugir à regra, pois os kahuna sabiam muito sobre a mente humana, talvez mais do que possamos imaginar.

Apesar de ser uma tradição oral, de ter ocorrido grandes mudanças de ordem política e religiosa, a história e a mitologia ainda nos proporcionam muitas áreas de estudo.

Como no círculo simbólico a Huna caminhou bastante e voltou aos princípios básicos existentes na tradição secreta, na mitologia e no conhecimento da mente com explicações psicológicas que só foram desenvolvidas no século XX.

As grandes revelações muito antigas deixadas para o mundo foram: a mitologia havaiana, o Tumuripo ou Cântico da Criação (embora faça parte da mitologia deve ser estudado separadamente, devido à importância do conteúdo para esclarecimento na história da humanidade) e a tradição secreta.
Mitologia

Todos os mitos são verdadeiros em diferentes sentidos. Toda mitologia tem a ver com a sabedoria da vida, relacionada com uma cultura específica, numa época específica. Integra o individuo na sociedade e a sociedade no campo da natureza. Une o campo da natureza à natureza individual. É uma força harmonizadora.

A mitologia havaiana se integra perfeitamente dentro desse conceito.

O Criador Supremo era a figura mais importante da mitologia havaiana e seu símbolo era um círculo com um ponto no centro. O panteão da mitologia havaiana possuía doze divindades principais.

No plano celestial mais elevado encontra-se o Supremo, Teave ou Ra que tinha em seu pensamento a essência da futura polaridade (Eri Eri e Uri Uri).
Teave Eri Eri e Uri Uri formam a Trindade Suprema. A seguir Tane e Na’Vahine que são manifestações dos filhos diletos de Teave (Eri Eri e Uri Uri) deram origem à primeira trindade manifestada Teave, Tane e Na’Vahine. As manifestações seguintes são as dos filhos de Tane e Na’Vahine, os príncipes Tanaroa, Tu e Rono. Tanaroa é o regente do Pacífico Sul onde reina sobre as águas; é também o Deus da noite que zela pelas crianças do arco-íris depois que o sol se põe.

Tu, Deus das colheitas e da agricultura e também membro da justiça do tribunal divino. É o guardião dos mistérios da natureza.

Rono é o Deus do sol terrestre e o Tumuripo foi composto em homenagem a ele. Rono é também o Deus da medicina, responsável pelas plantas que irão curar as crianças de Tane quando adoeceram. Responsável pelas crianças do arco-íris no período diurno.

Tane e Na’Vahine tiveram mais três filhas Rata, Tapo e Hina. Formavam a terceira trindade celestial. Rata tornou-se a companheira de Rono e a principal senhora do sol dessa Terra. Tapo tornou-se a esposa de Tanaroa e a deusa do Pacífico Sul. Hina casou-s e com Tu, tornando-se a deusa da agricultura e chefe da justiça do tribunal das leis do céu.

A outra trindade era formada por Vatea, Papa e Miru.

Vatea era o rei de Nu’umearani, o reino dos deuses e deusas da natureza. A deusa Papa, esposa de Vatea e regente feminina do quinto céu. Papa era conhecida por Haumea e às vezes mencionada como Ta Ruahine (senhora da cratera) era a mãe terra, a mãe da natureza dessa Terra.

Miru foi designado como o “Senhor do Mundo dos Espíritos”, onde vivem as almas dos homens após a morte física e tornou-se conhecido como o “Rei do Mundo dos Mortos”.

Na religião popular do Havai havia muitos deuses, deusas, fantasmas, gnomos, duendes e espíritos que mudavam de forma de acordo com suas vontades e que poderiam ser amigos ou inimigos dos homens. No entanto, esse aspecto era apenas uma distorção do verdadeiro conhecimento Huna.

Deus para a população e os missionários era akua. A verdade para a compreensão da psicofilosofia é de que akua significa “idéia pronta, totalmente em ação”.
Uma idéia totalmente ativa que provoca efeitos. A deusa Pele, por exemplo, é um akua.

O Tumuripo (Kumulipo no vernáculo moderno).

Muito da filosofia dos Kahuna , está contida no chamado cântico da Criação – Tumuripo, que está mais próximo de uma bíblia kahuna do que qualquer outra coisa. Originalmente era parte de uma tradição oral transmitida por kahuna treinados em memorização e foi compilada na forma atual, em 1700 pelo Kahuna Keaulumoku. Todas as traduções que foram feitas, são de um manuscrito que era propriedade do Rei Kalakaua, muito interessado na origem divina dos reis do Havaí, na preservação das tradições havaianas, inclusive nos segredos da Huna e o papel dos kahuna como curandeiros.

Na filosofia kahuna tanto o mundo espiritual quanto o material adquirem forma, como resultado de uma interação entre forças relativas, freqüentemente representada por um macho e uma fêmea. Para cada Deus no panteão havaiano com pouquíssimas exceções, há uma complementação feminina para ajudar na criação. Muitos são nomeados nas primeiras sete seções do Tumuripo, juntamente com versos que falam sobre a formação das plantas e da vida animal na Terra. O oitavo e o nono cântico relatam o nascimento do homem com percepção consciente e sua multiplicação sobre a face da terra. As outras dezesseis seções na versão Kalakaua tratam das principais genealogias, com exceção de uma narrativa sobre um herói cultural Mauí.

Muitos estudiosos não concordam com a forma que foi traduzido. Em uma tradição oral, numa língua como a havaiana, é difícil traduzir fielmente o sentido das coisas ensinadas, pois há muitas sutilezas na pronúncia o que dificulta a transmissão do contexto para a palavra escrita.

Há no Tumuripo uma descrição muito bonita sobre o aparecimento do primeiro Ser. Isso aconteceu depois dos sete primeiros cânticos, chamados de “A Noite da Criação Espiritual”, que é o significado oculto do Tumuripo.

Na aurora do primeiro dia, quando os raios do sol dissiparam a longa noite, o primeiro Ser pousou na terra no Jardim do Sol Brilhante, Rarovaia. Era a deusa Ra’i Ra’i filha de Eri e Uri. Era o antepassado de Mu. Suas crianças foram concebidas imaculadamente porque o pai delas era o Rei que veio do Céu, o Deus Tane.

Através dos versos estruturados para rimar e terem ritmo, o poeta revela uma incrível compreensão dos poderes criadores do Deus e da Deusa. O Tumuripo eleva-se a altitudes de divina magnitude e é de fato a principal obra oriunda do Havaí.

A Tradição Secreta

O primeiro homem que revelou o código Huna para o ocidente foi Max Freedom Long. Professor no Havai durante vários anos, era fascinado pelos poderes dos kahuna. Possuíam técnicas de cura e de controle do meio ambiente que realmente funcionavam, mas não revelavam seus métodos a quem não fosse kahuna. Na busca do conhecimento dos kahuna Max Freedom Long observou três elementos: uma forma de consciência (no’ono’o), uma forma de energia (mana) e uma forma de substância (aka). No entanto, demorou muitos anos para decifrar o código oculto no radical das palavras e isso formava uma outra linguagem.

A idéia fundamental na psicofilosofia Huna é de que criamos nossa experiência pessoal de realidade, por nossas crenças, interpretações, ações e reações, pensamentos e sentimentos. Somos co-criadores com o universo.

A Filosofia kahuna e o xamanismo havaiano podem ser sintetizados em sete princípios que conduzem o homem ao ser trino.

Cada um deles é simbolizado por apenas uma palavra chave da Língua Havaiana.

1. Ike – O mundo é o que penso que ele é.
A experiência pessoal é adquirida através das crenças, expectativas, medo, julgamento, interpretação, desejos, sentimentos, intenções e pensamentos constantes ou persistentes.
2. Kala – Não há limites.
Não há fronteiras para sua individualidade, nem entre você e seu corpo, você e o mundo ou você e Deus. Divisões usadas para esclarecimentos são termos funcionais ou convenientes, pois a separação é apenas uma ilusão útil.
3. Makia – A energia segue o curso do pensamento.
Você adquire aquilo em que se concentrou. Os pensamentos e sentimentos revividos conscientemente ou não formam as imagens que trazem para a sua vida, a mais próxima experiência disponível, equivalente aos mesmos pensamentos ou sentimentos.
4. Manawa – Seu momento de poder é agora.
Você não é limitado por qualquer experiência do passado ou qualquer percepção do futuro, porque o passado é apenas uma lembrança e o futuro uma mera possibilidade.
5. Aloha – Amar é compartilhar com…
Aloha é a palavra havaiana que significa amor e este existe à medida que você é feliz com o objeto do seu amor.
6. Mana – Todo poder vem de dentro.
Não há poder fora de você porque o poder divino trabalha através de você na sua vida. Você é o canal ativo para o poder e é direcionado por suas escolhas e decisões. Ninguém tem poder sobre você e seu destino, a não ser que você dê permissão para isso. Quando esse poder é direcionado para as ações, surge a mana energia vital de onde se origina todas as formas de manifestação.
Todos e tudo têm poder e se você aprende a trabalhar respeitosamente com esses poderes, mais do que tentar impor sua vontade, eles poderão ser muito úteis.
7. Pono – A efetividade é a medida da verdade.
Em Pono os meios determinam o fim e não os fins justificam os meios. A cura é a meta e a eficácia é o critério e não a prova de um sistema particular ou método.
A flexibilidade é um dos atributos de Pono; há várias maneiras de se fazer as coisas.

Mana
Mana é o sopro divino que organizou Po e que permeia todo o universo.
A Mana Poder Divino é apanágio de Teave que em sua bondade transforma-a em mana energia vital, através de seus filhos (forças criadoras e geradoras do universo).
A manifestação de mana energia se dá pela força coesiva que forma toda substância e mantém a estrutura de todo kino, e, como fé, tem o poder de transformar uma energia em outra, fator que propicia as curas e a evolução pela permissão do talento do principio xamânico havaiano Mana.

Aka
Aka é a substância básica do universo físico e dela é formada toda manifestação. A palavra tem vários significados como sombra, espelho, reflexo, luminosidade transparência, semelhança, essência e embrião no momento da concepção.
Age como um espelho para refletir padrões de pensamentos nos níveis físico e psíquico.
Em relação ao pensamento é uma simples sombra. Os kahuna acreditam que essa substância pode ser formada e moldada pelo pensamento consciente e inconsciente(dedutivo) e que age como um continente para mana. Quanto mais mana contém, mais densa se apresenta.
Algumas formas de aka são conhecidas pelos sensitivos como matéria etérica ou astral, como em uma percepção mental quando aparece como transparente luminosidade. São as características refletivas dessa matéria que capacitam o curandeiro kahuna, como tecelão de sonhos, a mudar condições mudando o modo de sonhar.
Segundo a interpretação de embrião no momento da concepção, vemos que ai se deu uma transformação adquirindo esse futuro kino, características próprias com uma substancia aka que lhe é peculiar, formando sua própria luminosidade.

Kino – o corpo físico
De acordo com as raízes quer dizer: Uma forma-pensamento altamente energizada.
Em Huna o corpo físico é um pensamento materializado do Aumakua pessoal, modificado por hábitos e atitudes adquiridos pelo uhane e unihipili.
O corpo físico é kino, mas também o é seu mundo físico. Ou seja, seu mundo pessoal, seu ambiente particular como você o experiência, não é apenas percebido por você – é formado por você, especialmente por seus pensamentos, sentimentos, crenças, expectativas, medos e julgamentos sobre ele. Um dos mais importantes segredos sobre você ensinado na Huna é sua habilidade para formar e reformular sua experiência pessoal no mundo.
Conclui-se que sendo uma forma-pensamento possui unihipili e uhane no ser humano e unihipili em qualquer forma manifestada, tendo sempre o Aumakua como guia.

O ser trino
O ser trino na psicofilosofia Huna é um ser espiritual com três aspectos, representados por Aumakua, Uhane e Unihipili em estado de harmonia. A desunião entre Uhane e Unihipili que estão no corpo pode ocorrer e provoca a interrupção da comunicação harmônica entre eles e a perda da efetividade na vida. A descoberta interior do conhecimento da tradição Huna restabelece pela eficácia das ações a união dos três espíritos, terminando com a ilusória separação criada pela individualização do unihipili e uhane, desde o início da longa jornada, através das vidas sucessivas pela compreensão e apreensão simbólica dos sete princípios. É a volta a Po como imagem e semelhança de Tane.
Nós somos únicos. Cada um de nós experiência a vida de forma diferente e nem dois de nós expressam a mesma combinação de talentos e técnicas, a não ser no estado de um ser trino.

Maria Therezinha Mendes de Melo

Bibliografia
Campbell, Joseph – O Poder do Mito
Churchward, James – O Continente Perdido de Mu
Melville, Leinani – Children of the Rainbow
Melville,Leinani – Dictionary
King, Serge – Kahuna Healing
King, Serge – Urban Shaman
Long, Max Freedom – A Ciência Secreta em Ação
Long, Max Freedom – Milagres da Ciência Secreta
Melo, Sebastião – Artigos diversos sobre Huna
Pukui e Elbert – Hawaiian Dictionary

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